Justiça não é sinônimo de vingança. Justiça é justiça, ora!
Escavocando a memória, posso rever o dia fatídico em que eu, garotinha de dez anos, 5ª série, extremamente correta na arte de estudar, me vi sendo enxovalhada pelas minhas coleguinhas, também garotinhas de dez anos, porque não quis dar a pesca da prova de matemática. A ladeira do colégio parecia a via-crucis. E eu pensava comigo, pensamentos abafados pelos gritos de "egoísta!", que um dia a justiça ia ser feita. Eu não estava fazendo nada de errado, pelo contrário. "E era eu a enxovalhada?"
Crianças e valores. Bem cedo se aprende!
Nunca fiz justiça quanto aos enxovalhos. Continuei seguindo meus valores. Talvez essa tenha sido a minha justiça interior, não me render ao que eu não acreditava, ao que eu mais desprezava, ainda que isso pudesse me fazer sofrer.
Valores. Ou se tem ou não se tem.
A memória às vezes é traiçoeira. Faz a gente esquecer tanta coisa, e não deleta nem com mil cliques uma cena remota. Essa me veio à cabeça depois de ver o debate da segunda-feira, 23 de outubro, entre os presidenciáveis. (Eu me reconhecendo em um dos presidenciáveis. Quanta pretensão!)
O mais alto, o com pinta de rico, como se fosse as minhas coleguinhas que queriam que eu desse a pesca de matemática; o outro, o mais baixo, era eu, dimuída pelo peso das palavras toscas e agressivas.
E eu via aquele homem tão simples, tão desarmado, tão cheio de valores sendo agredido, enxovalhado, desrespeitado. O outro cheio de impáfia, de arrogância, atacando.
"Os humilhados serão exaltados", eu pensava. Um dia a justiça será feita.
E nesse dia, todos os que já sofreram enxovalhos por suas escolhas, por seus valores, por sua postura firme diante das coisas, por sua humildade, por seu caráter, por seus sacrifícios, por seus ideais, nesse dia todos esses serão exaltados, representados ali por uma única figura. Um homem, baixinho, simples, cheio de valores e com um ideal comungado por muitos.
Por Nívea Maria
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